Eu não sou um cara de séries. Por exemplo, mal vi Friends na minha vida inteira (sem brincadeira), não assisto quase nenhuma, e as poucas que assisto tem que ter um nível muito bom para me interessar (na verdade, não gosto da ideia de ficar horas parado na frente da TV/Computador assistindo algo, quando eu poderia estar lendo um bom livro, desenhando, ou agora, escrevendo).
De qualquer forma, pela indicação dos meus amigos vi True Detective, em uma paulada só. E achei…. Boa. Apenas boa.
Se você é desligado do mundo das séries como eu, segue o resumo: A história segue um crime com motivos ritualísticos acontecidos no estado da Lousiana, e a vida e a maneira que os dois detetives protagonistas conduzem a investigação, o W.A.S.P. e americano padrão Martin Hart (Woody Harrelson) e enigmático Rust Cohle (Matthew McConaughey), e o impacto dessa investigação na vida dos dois.
De qualquer forma, fugindo do óbvio, não vou falar sobre a atuação incrível da dupla eleva o nível da série (fato), sobre o roteiro envolvente e principalmente sobre os detalhes e teorias sobre o fim dela. (recomendo este link para ler sobre isso).
Na verdade, até ler o link acima eu achei a série apenas boa, pois mesmo sendo uma premissa interessante, eu não entendi o buzz total que rolou acerca dela. Depois dele, consegui finalmente entender o que se passou na série, com os detalhes calmamente plantados, e toda o contexto do crime, e principalmente, o impacto dele em cada um dos envolvidos.
Agora, pensando bem, o crime na verdade, embora seja o princípio, não é o grande destaque da série.
Alguns dizem que são os diálogos pessimistas e totalmente sarcásticos de Rust Cohle sobre a condição humana, como somos limitados e como basicamente, nosso destino é sofrer.
Conforme o título da série diz “True Detective”, a história é convincentemente real, tendo então uma investigação real, que é acompanhada durante o período de 17 anos que a série aborda, não apenas uma investigação de um filme policial em que os detetives tem cerca de 1 h e 40 minutos para resolver o crime, que em termos cinematográficos seriam questões de semanas. Igualmente reais, sãos os investigadores, que apesar das suas falhas e erros, ainda são humanos, e curiosamente, mesmo fazendo coisas moralmente condenáveis, buscam a punição para aqueles que ultrapassaram a barreira “”””moral”””” dos dois protagonistas.
Sobre os personagens diga-se, por exemplo, Martin, que mesmo sendo infiel, violento, machista e perigosamente ciumento, acima de tudo, faz o que deve ser feito, hora que é necessário, talvez redimindo-se dos seus pecados nos 3 últimos episódios. E principalmente, quando ele toma conhecimento sobre o que era feito em relação as outras vítimas do assassino demonstra que mesmo não sendo um exemplo de ser humano, ainda tem muita coisa que o separa de um verdadeiro monstro.
Equanto Rust, com sua filosofia barata, niilismo (amplamente utilizado para explicar o ponto de vista do detetive) e total falta de sensibilidade à raça humana, curiosamente, é um otimista de carteirinha. Pois, caso não o fosse, porque não teria dado um tiro na cabeça se a sua vida é tão sem sentido? Porque não teria desistido da investigação quando passou a duvidar da própria sanidade? Porque entrou no labirinto escuro (literal e metaforicamente) correndo risco de vida? A não ser que ele desejasse a morte, em algum momento. Mas mesmo assim, muita da sua visão pessimista é desmontada pela sua estranha perseverança em solucionar o caso.
Vários elementos narrativos são utilizados durante a série, inclusive a Chekov’s gun e já famoso Arenque Vermelho, mas eu falo sobre eles outro dia…
Na verdade, há muitas coisas que podem ser ditas sobre a série, o porque deles serem os “True Detectives” ou como a espiral gira, e a história se repete (e vai se repetir para sempre), assim como a espiral de começo (início da série), acensão e ápice (a solução do crime) e queda (a vida pessoal dos dois policiais indo para bueiro) e novamente, renascimento… para começar tudo de volta.
Porém, o diálogo final, sobre os pontos de luz na escuridão resume talvez uma das grandes ideias da série: Que mesmo no escuro da alma deles, dos detetives, do mundo e talvez da humanidade, ainda exista pontos de luz.
Mesmo com o próprio Rust Cohle e sua relação cínica com o resto da humanidade não afastam do “otimismo” final da série.